
A ONS informou que os reservatórios do Nordeste operam com apenas 31,61% da capacidade, e os do Norte, com 41,24%

Presidente Dilma e Edison Lobão, ministro de Minas e Energia, se reúnem com Comitê do Setor Elétrico
O Comitê de Monitoramento do Setor
Elétrico, que avalia o suprimento de energia no país, se reúne na tarde
desta quarta-feira (9), em Brasília, para discutir o baixo nível dos
reservatórios das hidrelétricas. Correm rumores de um possível
racionamento ou apagão de energia.
Devem participar da reunião o ministro
de Minas e Energia, Edison Lobão, integrantes do ONS, da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da Agência Nacional do Petróleo
(ANP), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), da Câmara de Compensação
de Energia Elétrica (CCEE), da Agência Nacional de Águas (ANA) e do
Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel). Também foram convidados
dirigentes da Eletrobrás e das associações do setor elétrico.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS) informou que os reservatórios do Nordeste operam com 31,61% da
capacidade, e os do Norte, com 41,24%. Para suprir a demanda de consumo,
todas as termelétricas estão em funcionamento.
Segundo a Associação Brasileira dos
Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), os reservatórios
das hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste estão no mais baixo nível
para o mês de janeiro desde 2001, ano do último racionamento de energia
elétrica no país. A capacidade armazenada atual nos lagos das usinas é
28,9%.
Nesta terça-feira (8), a presidente
Dilma Rousseff se reuniu com o secretário executivo do Ministério de
Minas e Energia, Márcio Zimmermann, para atualizar os dados sobre a
situação do sistema elétrico brasileiro. Apesar dos rumores de crise e,
como consequência apagão, Zimmermann
afastou a ameaça de racionamento e disse que o sistema opera de acordo
com o equilíbrio estrutural para o qual foi planejado.
O presidente da Empresa de Pesquisa
Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que o Brasil tem condições
estruturais que dão segurança e tranquilidade ao setor elétrico e
permitem descartar a possibilidade de um racionamento de energia.
Segundo ele, a situação atual é diferente da que ocorreu em 2001 no
país, quando houve blecaute.
Tolmasquim disse ainda que em 2001 não
havia uma quantidade de usinas térmicas de reserva suficiente para
funcionar como uma espécie de seguro ou “colchão” do sistema elétrico.
Em relação às tarifas de energia, ele observou que a queda de 20%, que
entrará em vigor em fevereiro, poderá ser afetada por fatores
conjunturais, levando a redução a ser maior ou menor. Para ele, as
avaliações feitas pelo governo sobre o cenário atual e as séries
históricas dão tranquilidade ao setor.
Técnicos confirmam baixo risco de racionamento de energia

O custo da energia das termelétricas será repassado ao consumidor, o que compromete a promessa de baixar o custo do serviço
Quem espera um racionamento de energia
para este verão já pode dormir mais tranquilo. Para alívio do governo,
as chances de que o cenário de 2001, na era dos tucanos, se repita com
os petistas são pequenas a curto prazo, confirmam especialistas ouvidos
pelo Jornal do Brasil, fazendo coro ao que dizem as autoridades
federais.
O baixo nível dos reservatórios nas
principais hidrelétricas do país levantou rumores de que seria
necessária uma redução da oferta de energia. Porém, para Jorge Alcaide,
diretor de Energia da Wärtsilä, empresa de soluções energéticas, o
cenário atual é “muito diferente” daquele de 12 anos atrás e não “existe
possibilidade” de se viver a necessidade de uma nova economia
energética. Segundo o especialista, a construção, a partir de 2005, de
usinas termelétricas à base da queima de carvão está sendo fundamental
para garantir a demanda energética, mesmo em condições naturais
adversas.
“É importante ter este tipo de fonte de
energia como ‘back-up’, como um seguro para momentos como este. Elas
precisam existir pois não dependem do clima, do tempo. São mais
poluentes e caras sim, mas é como um seguro de carro: você não quer
usar, mas paga todo mês para emergências”, afirma.
Situação de risco
O engenheiro Luis Gameiro, diretor da
consultoria Trade Energy, é mais cauteloso na sua análise. Para ele,
ainda não se pode falar em racionamento nos próximos meses, mas
dependendo do comportamento das chuvas, que são esperadas com mais força
até março, a situação pode se agravar. “Existe uma previsão de chuvas,
mas elas estão abaixo do esperado. Ainda estamos no início do período
úmido, mas se até o final esta situação persistir, aí pode ser que haja
alguma coisa mais crítica”, avalia.
A questão, no entanto, vai além do risco
de racionamento. A produção energética a partir das usinas
termelétricas é bem mais custosa do que a hidrelétrica e este valor
extra deve ser repassado ao consumidor. O economista Julio César
Insaurralde, presidente da consultora Verax, acredita que os maiores
problemas na escassez de chuvas se darão exatamente por esta elevação
dos custos. “Quando a oferta de hidroeletricidade cai, entra a energia
térmica para dar cobertura, que tem custos de produção e geração mais
altos”.
Redução no custo da luz pode ser menor

A diminuição dos custos é fundamental
para que o setor industrial volte a ser competitivo e o Brasil acelere o
crescimento da sua economia, além de reduzir os gargalos de
infra-estrutura do país, apontados por economistas e especialistas do
setor industrial como um de nossos entraves. Para que a luz tenha um
preço mais competitivo, o governo brasileiro propôs reduzir os tributos,
que correspondem a 50% do seu preço final na energia residencial. O
estudo “Quanto Custa a Energia Elétrica para o Brasil”, da Firjan,
mostra que o Brasil detém outro recorde mundial nos tributos ao se falar
da energia destinada ao setor industrial: são 14 impostos que
representam 17% do valor final cobrado aos industriais.
“As tarifas de energia elétrica junto à
indústria brasileira impactam em demasiado sua competitividade, sob
qualquer ótica que se observe. Empresas de todos os portes e segmentos
são afetadas em todas as regiões do país, em especial nos estados com
maior contribuição para a produção industrial brasileira”, analisa o
estudo.
Sinuca de bico
Os problemas acabaram colocando o
governo em uma sinuca de bico. As reduções na conta de energia elétrica
contribuirão para o crescimento mais acelerado do país nos próximos
anos. Porém, com um PIB mais alto e uma demanda maior por energia, os
riscos de um racionamento aumentam, caso as chuvas voltem a “atrasar”.
Os investimentos em outras matrizes energéticas, segundo o governo, têm
acontecido, mas o ritmo de construção é lento frente aos problemas
enfrentados pelo país.
No entanto, as ameaças de que a
aceleração do país volte a sobrecarregar o setor elétrico não assustam
Alcaide. “Se não estivéssemos fazendo nada para suprir esta demanda
teríamos problema, mas há um série de usinas geradoras que deverão
entrar em funcionamento neste próximo ano, e conseguirão fazer frente a
esta demanda”, afirma.
Fonte: JB